a arte de ser mais ou menos

Quase 32 anos me sentindo mais ou menos. Ah, é isso… uma amiga mais ou menos, uma namorada mais ou menos, uma aluna mais ou menos, uma filha mais ou menos, uma profissional mais ou menos, uma irmã mais ou menos, uma chefe, mais ou menos, um ser humano mais ou menos que faz coisas mais ou menos.  E o que é doido: quase orgulhosa por ser mais ou menos, porque em um mundo de tanta tanta gente menos, não preciso ser mais! Mais ou menos resolve, passa na média.

Nunca fui a mais feia da escola, mas muuuito longe de ser a mais bonita, era a mais ou menos. Sempre entreguei meus trabalhos, mas sempre com aquela sensação de que entreguei mais ou menos. Não sou super engraçada, mas tenho lá meu senso de humor… mais ou menos engraçada. Na hora de me vestir, não sou cafona, mas não sou estilosa, sou mais ou menos. Nem alta ou baixa eu sou… nem magra ou gorda, nem meu olho é claro ou escuro. É tudo mais ou menos mesmo. Tenho um gosto mais ou menos bom, sou mais ou menos legal, sou mais ou menos uma boa companhia. Sou mais ou menos organizada, tirei notas mais ou menos na escola e na faculdade, entrego mais ou menos bons projetos. Longe de ser medíocre, mas nada perto de ser brilhante.

ilustração: Liza Rusalskaya

Vivi confortavelmente até aqui sendo essa coisa nada demais, mas me preocupando com a hora que vou me encher o saco e querer desesperadamente ser incrível em algo. Sabe? Uma sensação de que eu fui sensacional em algum momento. Esse sentimento de ser mediana hoje não é um problema, é um lugar confortável e que me permite observar… e mudar. Quando uma pessoa mais ou menos muda, ninguém se choca, é ótimo! E eu não preciso explicar muita coisa pra ninguém. Eu gosto desse lugar, mesmo! Por enquanto eu gosto. Nele eu não surpreendo muita gente, verdade, mas eu também não decepciono. É aqui no meio termo que eu vou vendo onde queria ser melhor e vou tentando. Tentando ver o copo meio cheio aqui: quem é nota 7, tem várias chances de melhorar. Quem é nota 10 só pode piorar.

Claro, muitas vezes na minha vida encontrei pessoas na vida pessoal ou profissional que me disseram que fui incrível. Discordei convicta! Essas pessoas estavam erradas, eu só tinha sido mais ou menos. De novo. Muita dificuldade em receber um elogio que me tirasse da média. A vida toda. Passei também por momentos em que disseram que fui ruim em algo que eu me achava mais ou menos? Sim também. Discordei também. Poxa, ruim não… eu fui só mais ou menos.

Eu não tô reclamando, nem pedindo elogios. Eu reconheço várias das minhas qualidades e dos meus defeitos, tá tudo bem quanto a isso. Não sou uma sabotadora de mim mesma, eu só tô aqui transitando livremente entre o patético e o impressionante e sendo o que eu quiser. Quase sempre longe dos holofotes porque as pessoas gostam mesmo é de falar da vida de gente escrota e de gente foda, ninguém perde tempo comentando vida de gente mais ou menos. A liberdade do mais ou menos é maravilhosa e eu aproveito ao máximo! Vou, volto, insisto, desisto, mudo, ouso, fico, questiono, melhoro, pioro e vou caminhando pra onde eu quero ir, se é que eu sei pra onde quero ir.

Um dia eu devo acordar com a sensação de ter sido ou feito algo incrível, mas enquanto isso… sigo no conforto de ser incrivelmente mais ou menos.

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

 

Como recuperar sua autoestima

Eu separei esse assunto em das partes porque eu queria deixar de fora da discussão a questão estética. Quantas vezes você não viu uma pessoa evidentemente muito bonita se queixando de uma baixa autoestima? Tenho certeza que muitas e que muito provavelmente você achou que era papo furado… afinal, como ela pode estar se sentindo mal com ela mesma se ela é tão linda?

O que acontece é que gostar de si mesmo não é físico, é muito mais profundo com isso. Uma baixa autoestima é fruto de muita insegurança. E essa insegurança faz com que a pessoa se coloque em situações que só agravam ainda mais e esses sentimentos de fraqueza, insegurança, frustração e desamor só aumentam em um eterno círculo vicioso.

Acredito que a chave de uma boa autoestima seja a autoconfiança. E muitas vezes a gente já está tão afundado na insegurança que parecer ser impossível recuperar a fé e o amor por si mesmo, né? Mas só parece… esse é só mais um truque da mente. É imprescindível que se trabalhe isso internamente o quanto antes porque nossa autoestima baixa faz com que a gente aceite relacionamentos abusivos, empregos que nos exploram, situações que nos violentam e amizades tóxicas simplesmente porque acreditamos que a gente merece aquela porcaria toda… a gente se ama tão pouco que não imagina que a gente merece só coisas boas. A baixa autoestima faz com que a gente não se arrisque em oportunidades promissoras por medo de falhar, faz com que a gente fique eternamente numa falsa zona de conforto que de confortável não tem nada. É só uma zona de definhamento, onde nada de bom vai acontecer e a gente só vai ficar com pena de si mesmo.

87ff06c0ff30cb1db932cdfd6896501eRecuperar a confiança em si mesmo não é uma coisa que acontece de repente ou da noite por dia. São pequenas conquistas e pequenos exercícios diários. Algumas coisas me ajudam e me ajudaram até aqui e eu quero dividir com vocês… a primeira dica que eu daria: desafie-se. Não comece com algo grande, a soma de pequenas conquistas tem um poder transformador. Coloque pequenas metas… pode ser ler 20 páginas de um livro por dia, passar 2 dias sem comer chocolate, acordar meia hora mais cedo por uma semana, ir para a academia 3x por semana, visitar um parente diferente por semana durante dois meses.  Essas pequenas metas, conforme você for concluindo, vão te fazer recuperar um pouco da confiança em si e vão te ajudar a deixar de lado a autossabotagem. Quando tiver recuperado um pouco da sua fé em si, desafie-se de verdade a algo maior. Vencer medos! O medo de dirigir, o medo de altura, de água… isso pode ser transformador.

Diariamente, ao acordar, se olhe profundamente no espelho, dentro dos seus olhos… não deixe que os olhos desviem para o que você julga ser defeito. Olhe no fundo dos olhos e repita palavras de amor, de motivação… ou até mesmo elogios! Elogie-se, parabenize-se. Diga o quanto você pode ser incrível, enalteça suas qualidades, lembre de tudo que já conquistou até aqui.

Pratique um esporte. Eu posso dizer que minha autoestima é dividida em duas partes: antes e depois de correr uma maratona. Correr 42km teve um efeito na minha mente e na minha percepção sobre mim mesma que nunca mais se apagou. Eu mudei definitivamente. O esporte é uma arma poderosíssima para recuperar sua confiança porque quando você começa qualquer esporte, você inevitavelmente vai ser ruim, mas conforme vai treinando, sua evolução vai ficando evidente e isso se transforma em um poderoso sentimento de superação.

Elogie pessoas e ajude pessoas. Conhecidos ou desconhecidos. Colegas ou amigos. Qualquer pessoa… quando você ajuda um cego a atravessar a rua, quando carrega uma sacola de compras de uma idosa com dificuldades, quando não corre pra fechar a porta do elevador quando o vizinho chega, quando dá bom dia no elevador, quando elogia a roupa de um colega de trabalho que não tem contato, quando oferece o lugar pra sentar no ônibus, quando ajuda uma pessoa que não está passando bem, quando divide um prato de comida com quem tem fome, você está fazendo a diferença na vida dessa pessoa. E perceber que uma atitude sua teve um impacto positivo na vida de uma outra pessoa faz com que um profundo sentimento de realização tome conta de você e isso acaba virando um vício! Ajudar o outro faz bem pro outro e 3 vezes melhor pra gente mesmo. Reconhecer-se importante no dia ou na vida de alguém faz com que a gente se sinta muito melhor com a gente mesmo.

Tome pequenas decisões. Abandone um pouco a mania de dizer “tanto faz” ou “você que sabe”. Entenda que suas vontades têm valor e também precisam ser ouvidas. Quando estiver com outra pessoa, passe a de vez em quanto escolher a música, o que vão comer, o filme que vão assistir, o lugar onde vão passear. Quando você decide algo, por menor que seja, e o outro aceita, você aos poucos vai entender que o que você quer e pensa também tem valor.

Experimente também discordar. Quantas vezes você não aceitou uma situação ou uma opinião de outra pessoa calado sem coragem de usar a própria voz? Experimente discordar, não precisa começar com uma grande polêmica, mas se você não gostou de um determinado filme que todo mundo gostou, por exemplo, exponha seu ponto. Você vai ver que você vai se sentir muito bem por não ter concordado com algo que não queria.

É preciso que a gente enxergue valor em quem a gente é, no que a gente pensa, no que a gente faz e no que a gente fala. Quando desrespeitamos quem nós somos na esperança de agradar os outros, nós nos diminuímos e damos carta branca pra que as outras pessoas nos tratem com o mesmo desrespeito e falta de amor que nos tratamos. É como muito bem disse Rupi Kaur uma vez: como a gente se ama que a gente ensina o outro a nos amar.

Eu sei que o processo pode ser difícil e lento, mas é preciso que a gente se esforce a fazer pequenos avanços dia após dia. O que era muito difícil no começo, vai ficando mais natural com o passar do tempo. Experimente!

E se você que tá lendo tiver alguma outra coisa pra acrescentar nesse processo muitas vezes difícil, divide aqui nos comentários. ❤

E como no último texto, também tem a versão em vídeo pra quem é de vídeo.

Um beijo!

Hari

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

 

O Corpo e a Autoestima

Que a pressão pra que a gente se encaixe nos padrões existe e é extremamente nociva, todo mundo já sabe… mas existe um novo tipo de pressão que tem aparecido que é preciso estar muito atento.

Muitas pessoas na internet estão levantando a bandeira da autoestima e isso é lindo, corajoso, válido e extremamente necessário, mas é preciso muito cuidado e muita responsabilidade na hora de nos  posicionarmos, pois transferir a pressão de se encaixar num padrão para a pressão de se amar a todo custo não ajuda em muita coisa. Cada pessoa tem seu tempo e suas questões, não existe um botão onde se aperta e tudo muda!

selflove

ilustração: Malota

Na minha luta por uma autoestima um pouco melhor, eu passei por muitas fases e hoje acho que estou muito melhor do que jamais estive, mas ainda existe um caminho a se percorrer e o exercício é diário, mas existe uma coisa que eu entendi que mudou todo o meu processo. Por muito tempo acreditei que pessoas com autoestima alta eram pessoas que amavam tudo sobre si… amavam o que julgavam feio em si. O feio e o bonito são conceitos muito subjetivos, o que julgo feio em mim pode ser justamente o que alguém vê de bonito em mim, mas aqui é tudo sobre como a gente enxerga a gente mesmo.

Eu via aquelas mulheres super bem resolvidas de repente amando cada aspecto sobre si e me frustrava porque por mais que eu me tratasse com muito amor e respeito, eu continuava não gostando das minhas pernas, meus cabelos brancos, meus pneuzinhos… por que só eu não conseguia amar cada centímetro do meu corpo? E um belo dia eu entendi que eu estava fazendo tudo errado, tentando chegar naquele estágio de autoestima de forma totalmente errada. Eu entendi que não era nada disso!

Pra mim, o segredo é ter total consciência do que não gosto em mim e entender que é muito ingênuo eu achar que todos os meus “defeitos” precisam ser corrigidos. Que crueldade comigo mesma eu achar que eu não podia ter defeitos. Quem sou eu pra não ter defeitos… essa pessoa sequer existe! Por que eu seria a única? E aí eu fui fazendo as pazes comigo e tirando essa pressão das minhas costas. Ainda não acho minhas pernas bonitas e nem várias outras coisas do meu corpo, mas isso é tão natural quanto respirar. Decidi que isso não me define, que são parte de quem sou e que algumas coisas feias não me fazem uma pessoa feia ou pior. Entender isso mudou tudo pra mim! Não tenho mais a ingenuidade de achar que preciso achar tudo lindo.

Somado a isso, abandonei (dentro do possível) a mania de comparação. A gente é bombardeado o tempo todo e em todos os lugares com imagens de corpos perfeitos e diferentes dos nossos e ficamos querer pra gente corpos que já pertencem a outras pessoas, ignorando completamente que cada um de nós é uma combinação genética única e exclusiva no mundo. Nenhuma dieta vai me transformar na Gisele Bündchen e nenhum treino vai me transformar na Sabrina Sato… aqueles corpos são delas e o meu é o meu. Ninguém é igual a ninguém e eu preciso aceitar que preciso tentar transformar meu corpo dentro do possível e da realidade que me foi dada e dentro das minhas limitações. A comparação é o caminho mais curto pra frustração.

O exercício pra que o corpo não seja alvo do nosso ódio é diário. É importante que durante o processo a gente não permita que nossas insatisfações com o corpo não nos impeçam de viver a vida que é tão curta… nunca seremos tão jovens quanto somos hoje! Coloque o biquini, vá à praia, pule na piscina, saia pra dançar quando a acne aparecer, não recuse convites por nenhum quilo a mais. Não deixe de viver, absolutamente ninguém repara nos seus “defeitos” da mesma forma que você, não se cobre tanto.

Estar em paz com o corpo acredito ser a primeira etapa pra que se atinja, de fato, uma autoestima boa… muitas pessoas acreditam que o corpo é o que rege a autoaceitação, mas não se iludam, essa é só uma parte que nem é tão grande assim, mas justamente por essa confusão é que cada vez mais vemos pessoas com ódio de si mesmas. Vou fazer um segundo post falando sobre a autoestima depois da paz com o corpo. Um dia tudo cai, tudo murcha, tudo enruga… e o amor que sentimos por nós mesmos não pode se abalar por isso.

Espero que vocês consigam abrir a mente e entender essas duas coisas:

1. querer não ter “defeito” é querer ser perfeito e isso é muita pretensão de qualquer pessoa.
2. a comparação tem um efeito devastador e é o caminho mais curto pra frustração.

Semana que vem a gente conversa um pouquinho mais sobre isso!

Um beijo,

Hari

esse texto é uma versão escrita do que tentei falar ontem no YouTube. Então tem texto pra quem é de texto e vídeo pra quem é de vídeo .<3

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

Somos mesmo tão diferentes assim?

Gente, vamos falar um negocinho aqui RAPIDÃO?

 

Existem poucas certezas nessa vida… uma é que todos vamos morrer, outras duas é que pagaremos muito imposto na vida e que todo ano teremos discursos de ódio contra pessoas que assistem Big Brother Brasil. Eu, Hariana, não gosto de Big Brother, não tenho paciência… confesso que não entendo muito quem fica alucinado pelo reality, mas é preciso muito cuidado ao expor opinião sobre o tema. Por quê? Bom, porque eu sigo na internet um monte de gente que não conheço, assisto os stories das pessoas que nunca vi fazendo vários nadas e minha vida em nada é impactada por esse “entretenimento”.

Acho que é importante olhar pra si antes de julgar e diminuir o outro. Muitas vezes fazemos coisas muito similares às coisas que recriminamos no outro. Não existe muita diferença entre BBB e seu feed cheio de desconhecidos. Enquanto uns ficam horas vendo os confinados na casa, você pode estar há horas stalkeando até a tia da irmã da amiga do amigo do primo daquela pessoa que você nunca viu. Você vê diferença na relevância do conteúdo que estão consumindo? Eu não.

Mesma coisa com novela. EU não tenho o hábito de assistir, mas quando volto correndo pra casa do trabalho pra ver o próximo episódio daquela série que tô acompanhando, eu estou fazendo mesma coisa que quem não perde um capítulo da novela das 9 faz. A gente precisa deixar de ser presunçoso e achar que nossas preferências fazem da gente seres superiores. Não adianta nada xingar quem ouve funk incentivando a desvalorização da mulher, se tá sempre dando ibope pra rap americano misógino.

E assim vai… é assim com política, com religião, com futebol. Não adianta dizer que flamenguista é marginal se o você que torce pro Palmeiras não considera as brigas em que a sua torcida também mata. Não adianta julgar o evangélico, se você católico está abrindo mão de coisas em detrimento de sua crença também. Não adianta gritar com o cara da direita que tá defendendo o político tucano, se você não consegue enxergar o que o político da esquerda está fazendo e o defende.

arguing-1296392_960_720

É tanta energia que se perde julgando os outros e suas escolhas, né? Se a gente usasse metade dessa energia pra fazer uma autocrítica diária, o mundo estaria menos hostil. A gente é cheio de julgar o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim, o que é inteligente e o que é burro, o que é relevante e o que é fútil… mas é cheio de julgar somente no outro, sem fazer o menor esforço pra fazer uma comparação breve pra ver se, por acaso, o que achamos pequeno no outro não é o que também nos diminui.

É preciso muito cuidado ao julgarmos nossas escolhas como melhores. É preciso diminuir o hábito da comparação e olhar pra dentro com o mesmo senso crítico que olhamos pra fora. No fim, somos todos uma variação da mesma coisa.

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

Felicidade não é a ausência de tristeza.

Felicidade, pra mim, não é a ausência de tristeza. A partir dessa constatação, ser feliz ficou muito mais fácil. Ser feliz é sentir as dores e as tristezas com a consciência de que elas fazem parte do nosso caminho e que é através delas que vamos nos aproximando cada vez mais do nosso propósito. É pela tristeza que aprendemos a valorizar os momentos de alegria, é através dos momentos difíceis que nos fortalecemos e que descobrimos que somos capazes de muito mais e isso é felicidade. Viver uma vida em felicidade não significa ser feliz o tempo todo, é impossível ser feliz o tempo todo… até porque só temos consciência do bom porque já provamos o ruim.

Se a gente reajustar nossos conceitos e setar nossa mente pra não esperar uma vida sem tristezas, a gente vai se aproximar cada dia mais de uma vida feliz. Nem tudo é preto no branco, nem tudo que o dicionário diz ser antagônico de fato é. Felicidade é sentir cada angústia e tirar lições valiosas delas, felicidade é acordar triste e despertar para mudanças necessárias na vida. Felicidade é sentir a inquietação de algo ruim e ter a oportunidade de fazer diferente a cada dia.

ilustração Henn Kim

Os sentimentos ruins são nosso maior sinalizador de algo que precisa ser reajustado e são nosso principal caminho para a evolução e isso, amigos, é felicidade. Que a gente não se frustre por não ter apenas dias felizes, um dia triste não significa uma vida triste. Uma vida de dias apenas felizes é uma vida sem transformações e estamos vivos pra nos transformarmos em seres melhores a cada dia.

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

Nem tudo vai dar certo.

A gente não está preparado pras coisas quando elas dão errado, né? Observem… quando alguém está passando por algum problema ou divide alguma dificuldade pontual, a reação das pessoas é SEMPRE a mesma na hora de consolar: “calma, vai dar tudo certo…” ou “calma, vai ficar tudo bem…”

Acho que é hora de entender que nem tudo vai ficar tudo bem e nem tudo vai dar certo e que essa não é a melhor forma de consolar alguém porque eventualmente vai dar tudo errado e nada vai ficar bem. Isso é a vida, não vamos nos iludir e nem iludir ninguém de que algo é diferente disso ou a gente vai viver num mundo de pessoas despreparadas pra decepção e pras frustrações.

A vida é feita de altos e baixos, alegrias e tristezas, realizações e frustrações e precisamos entender que nada é mais natural que isso. Parafraseando Vanilla Sky: o doce nunca seria tão doce se não fosse o azedo. A gente só sente alegria porque já sentiu tristeza, só comemora as realizações porque já sentiu o peso da frustração. São as adversidades que nos fazem gratos quando as coisas dão certo.

Na hora de consolar alguém, ao invés de dizer que vai ficar tudo bem e que não é pra se preocupar, encoraje a pessoa, diga que mesmo que o pior aconteça, as coisas vão fazer sentido em algum momento. Incentive a pessoa que está sofrendo a buscar entendimento e força emocional, a não tentar ter controle sobre tudo. Diga que ela encontrará forças pra lidar com o que tiver que lidar, que mesmo que as coisas acabem dando errado, ela encontrará a melhor maneira de passar por isso. Que é uma fase. Tudo passa. O bom e o ruim. A gente precisa estar preparado pra instabilidade dessa vida… nada está sob controle. Ofereça seu ombro, esteja presente, mas não iluda ninguém. Você não sabe se as coisas vão dar certo, ninguém sabe. Que a gente não brinque de tentar adivinhar as coisas, elas não são adivinháveis.

Levemos o clichê a sério: espere o melhor, esteja preparado para o pior e receba o que vier. Na vida não há nada sob controle, muitas coisas darão errado pelo caminho e não há problema algum nisso, é apenas a vida como ela é.

“É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.”
– Friedrich Nietzsche

“Entrego, confio, aceito e agradeço.”
– Professor Hermógenes

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

1 + 1 sempre será = 2.

Há umas semanas fomos a um casamento e durante a cerimônia, o celebrante disse que a partir daquele momento os noivos deixavam de ser dois e passariam a ser um só. Eu sempre choro em casamentos, mas nesse momento foi como se tivessem jogado um balde de água fria na minha cabeça. “Não fala besteira, moço”, eu pensei.  Esse, acredito eu, é o maior erro que duas pessoas que decidem se relacionar podem cometer. E eu também já cometi, todo mundo em algum momento comete.

Eu acho que é absolutamente normal que duas pessoas mudem depois de começarem a se relacionar, mas isso não significa perder-se de si mesmo. As mudanças são parte da nossa existência e elas acontecem em qualquer circunstância das nossas vidas, mas afastar-se de quem é por causa de outra pessoa é uma bomba-relógio. Muitos relacionamentos, depois que acabam, deixam duas pessoas completamente perdidas por não se lembrarem mais sequer do que elas gostam de verdade. A relação toma uma proporção tão grande que vira o centro de todas as coisas e quando ela acaba, a sensação é de que não sobrou mais nada na vida. E é isso que acontece quando duas pessoas acham que viraram uma só.

Não deixe de ir aos shows que você ama e o outro detesta. Trabalhem a confiança entre vocês dois pra que independência jamais seja vista com insegurança pelo outro. Não deixe de jogar video game porque o outro não sabe jogar. Mantenha contato com seus amigos, com sua família… não esqueça que você ama ir ao cinema toda semana e que aquele amigo que seu/sua namorado(a) não vai com a cara ainda é parte da sua vida e que isso precisa ser respeitado. Não jogue fora nada nem ninguém que você vai sentir falta depois que for singular de novo. Não deixe de beber seus drinks porque o outro não gosta, não deixe de usar seu batom vermelho, não esqueça que você ama viajar. Não precisa dormir cedo se você detesta isso, não precisa deixar de ir a churrascaria porque o outro é vegetariano. Não pare de receber pessoas na sua casa, se isso é uma das coisas preferidas da sua vida. Não esqueça dos seus hobbies, do que sempre te fez feliz, do que te dá alegria de viver. Não deixe de ir a museus ou a jogos de futebol. Aproveitem ao máximo suas interseções,  mas respeitem um ao outro e nunca achem que é preciso ser um só.

Uma relação é um time. De dois, mas é um time. Se você só tiver atacantes em um time, vai tomar gol demais. Se só tiver zagueiro, não vai marcar nada.  Cada um tem seus talentos, vontades, interesses e personalidade e é exatamente essa particularidade que faz com que duas pessoas se apaixonem e potencializem suas virtudes… com o passar dos anos, de tanto um se confundir com o outro, a razão pela qual tudo começou se perde e a saudade de si mesmo começa a dar gritos ensurdecedores. Sentir saudade de quem se é pode ser muito dolorido porque não há ninguém pra culpar além de si mesmo. O amor tem muito mais a ver com parceria do que com anulação. Amar é amar as diferenças, é ceder hoje e amanhã não ceder. Uma relação nasce entre duas pessoas, quando essas duas pessoas viram uma só, o que fica é solidão. E solidão a dois é dor, não é amor.

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

Dar vem antes de receber.

Muita gente pedindo pra receber e muita gente pouco disposta a dar. Tanta gente insatisfeita com o que a vida tem dado… mas o que essa gente tem dado pra vida? Não sei onde se perdeu a consciência da mão dupla e as pessoas passaram a exigir da vida, das pessoas e das situações muito mais do que dão. A vida é um eco e por mais que isso soe um clichê, precisa ser levado a sério.
Dar vem primeiro e não receber. As pessoas estão em uma eterna queda de braço, ninguém quer falar primeiro, dar primeiro, amar primeiro, cuidar primeiro. Está todo mundo na defensiva, esperando o outro dar o primeiro passo, mas quando essa postura é generalizada, o resultado é todo mundo parado no mesmo lugar frustrado, desamparado, medindo forças e acinzentando o mundo.
Quer ser amado? Ame antes, se entregue antes, se doe, cuide, fale sobre amor… dane-se seu ego e seu medo de não ser retribuído, seja menos vaidoso, meça menos forças. Quer respeito? Respeite. Quer cuidado? Cuide. A ordem dos fatores não altera o produto, você deveria ter aprendido isso na escola, não precisa se preocupar em ser o que dá depois, dê antes, dá no mesmo!! Em um mundo onde ninguém tem coragem de dar o primeiro passo, seja o que enfrenta os sentimentos entre tantas almas covardes.
Seja o que convida pra sair,  o que puxa conversa, o que diz que ama primeiro, seja o que cuida, o que pega na mão, o que toma a iniciativa, o que diz que tá com saudades, o que convida pra sair. O mundo precisa urgentemente de pessoas agindo sem medo pra fazer a energia boa circular. Seja um bom amigo antes de querer ter um bom amigo. Essa quantidade absurda de pessoas na retaguarda esperando tá deixando o mundo morno, sem coração, cruel e triste. Sim, triste. As pessoas estão carentes, estão sozinhas… ainda não entenderam que a vida se dá pra quem se deu! E olha que Vinícius de Moraes falou isso há muitos anos em “Como Dizia o Poeta”, mas ninguém quis ouvir.
Pare de esperar que as coisas cheguem em você pra você começar a dar, se liberte do ego, da vaidade e do medo. Seja leve e seja destemido… quando a gente passa a agir com o coração, tomando iniciativas positivas e propagando coisas boas pras pessoas, parece que todas as forças se juntam pra devolver só positividade pra nossa vida e pros nossos dias.
Na língua de hoje em dia: siga sem ser seguido de volta, dê likes sem receber likes, marque sem ser marcado. A vida não é uma competição e afeto, atenção e amor são recursos inesgotáveis, doe sem moderação e observe seu mundo ficar cada vez mais bonito!!!!
Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

Meus jeitos de dizer que te amo.

Eu digo que te amo todo dia quando te beijo o rosto e confiro se a coberta está sobre você antes de ir pro trabalho. Eu digo que te amo todas as vezes que meus pés encostam nos seus durante a noite. Eu digo que te amo quando aceito seus convites antes de saber quais são, quando passo o dia com a sua família, quando coloco seu celular pra carregar sem você pedir. Eu digo que te amo quando coloco “Feeling Good” pra tocar quando estamos em uma reta na estrada. Digo que te amo quando vou de pijama pro restaurante jantar com você porque você estava com fome e não queria te fazer esperar. Eu digo que te amo quando cozinho, quando sento no chão do quarto do teu lado organizando as coisas com você. Eu digo que te amo quando ouço com atenção você falar sobre seu dia no trabalho. Eu digo que te amo quando te beijo antes de dormir, quando me preocupo com seu estômago e quando te encho um copo de água no meio de uma festa e tá bebendo demais. Eu digo que te amo quando faço questão de conhecer cada amigo seu, cada pessoa da sua família, cada lugar preferido seu. Eu digo que te amo quando trabalho com você, quando ouço você fazer paródias horríveis e quando aceito que sua vida é muito louca. Eu digo que te amo toda vez que pergunto se dormiu bem, quando massageio seus pés e quando assisto futebol do seu lado. Digo que te amo quando te assisto jogar video game, quando digo “eu trouxe” quando você esquece algo em alguma das nossas viagens. Digo que te amo quando compro algo que você gosta do mercado, quando provo seus drinks sem nem saber o que tem dentro. Digo que te amo quando coloco a mão na sua nuca enquanto dirige, quando te dou a mão embaixo da mesa, quando guardo sua carteira e sua chave na minha bolsa pra não perder. Digo que te amo em cada puxão de orelha que te dou, em todas as vezes que divido responsabilidades com você quando sinto que tá sobrecarregado. Digo que te amo quando te mando mensagem no meio do dia pra saber se está bem, quando te acompanho no médico, quando me aninho no seu peito. Digo que te amo cada vez que ando na ponta dos pés pra não te acordar, digo que te amo quando faço planos com você, quando quero colocar a foto da sua viagem preferida na parede. Eu digo que te amo sem falar absolutamente nada muitas vezes por dia. Eu digo que te amo quando a gente está longe em uma festa e se olha só pra dizer que estamos ali um pro outro. Digo que te amo quando te ligo antes de ligar pro seguro quando meu carro pifa no meio da rua. Digo que te amo quando te peço ajuda, quando te confesso meus medos, quando me desarmo pra você. Se um dia, por acaso, bater alguma dúvida… repare bem nas coisas que faço, quase todas elas são meu jeito de te dizer que amor não vai te faltar.

b36539e25f700564f468e12b60223705

ilustação: Sara Herranz

Segue lá também: YouTube | Instagram | Facebook | Twitter

Quando vi, já era amor.

Quarta-feira, 23h de um dia cheio. Pijama. Toca o telefone, um amigo chamando pra um jantar na casa daquele cara que ele me apresentou horas mais cedo durante um evento. Hesitei, não fico muito confortável indo em casa de pessoas que não conheço direito e do anfitrião eu só sabia o nome, onde trabalhava e que tinha olhos bonitos. Ele insistiu, tirei o pijama, coloquei uma roupa preta qualquer, passei em algum lugar no caminho pra comprar umas cervejas e fui.

 

A casa tava cheia. Cheia de pessoas que eu não conhecia, mas  ok, sempre fui boa em conversar com desconhecidos. Não sei como aconteceu, mas em algum momento eu estava atrás do balcão da cozinha com o dono da casa do meu lado. Ele sempre dava um jeito de encostar em mim, era involuntário, mas eu sabia o que queria dizer. Meus quase 30 anos já me fizeram entender direitinho quando tem alguma tensão  física entre duas pessoas. Era um jantar, eu trabalhava no dia seguinte, mas às 5h ninguém tinha ido embora. Fui a primeira… ele não queria. Eu fui. Dei tchau pra ele por último e foi a despedida mais desajeitada que podia ser, um beijo quase no canto da boca me deixou o recado de que eu o veria de novo em breve.

No outro dia, bêbada de sono, depois de 3 horas de descanso, acordei e ele estava em todos os lugares possíveis. No snapchat, no instagram, no facebook, no whatsapp… Ele tava lá sendo direto e me dizendo com todas as letras que queria ter me beijado, que precisava me ver de novo e que precisava ser naquele dia. Não estava acostumada com tanta objetividade, mas já tava esgotada de joguinho besta que povo solteiro adora fazer. Na noite de quinta-feira, um happy hour com as mesmas pessoas do dia anterior e mais algumas outras. Ele chegou no fim, era meia-noite, a ideia era ir pra casa, mas apareceu uma balada gay daquelas que eu adoro. Eu estava conversando com umas pessoas encostada no balcão enquanto todo mundo se organizava pra ir embora… Ele entrou na roda, ignorou as pessoas e simplesmente veio na minha direção e me deu um beijo. Sem cerimônias, sem explicação e com a segurança de quem tem certeza de que não existia outra possibilidade pra nós dois além de ficarmos juntos. Pelo menos naquela noite…

 

E é verdade, nada parecia fazer mais sentido. Bebemos, cantamos, dançamos, descobri o quão rápido ele dirige. Eu estava solteira, daquele jeito pretendia ficar por muito tempo, mas ele tinha tanta cara de casa, que achei que não faria mal algum ser solteira ao lado dele de vez em quando. Acontece que nunca foi de vez em quando. A gente se viu de novo na sexta em um aniversário de uma amiga dele, no sábado a gente já estava no cinema. No domingo, era domingo de eleições municipais, ficamos sentados na varanda dele por muitas horas. Naquele dia falamos sobre amor, sobre passado, sobre Deus, família, traumas e sobre quem somos. Naquele dia a gente mergulhou, saiu da superfície e eu sabia o risco que a gente estava correndo. E naquele dia eu soube que meu plano de solteirice longeva estava ameaçado. Foda-se, paguei pra ver. E na segunda ele cozinhou pra mim, na terça nos vimos de novo, na quarta ele apareceu na porta da minha casa às 3h da manhã depois de uma festa. De todos os lugares que ele podia ir na madrugada, foi na minha porta que ele bateu. Dei um lado da minha cama, dei água e ele combinava tanto com meu mundo que ter ele ali não me assustou em nada, mesmo que uma semana antes a gente fosse completamente desconhecido um pro outro.

 

Aquela semana virou duas, virou três, virou um mês. A gente se viu todos os dias durante muito tempo. Levei ele no hospital, ele me ajudou a enfrentar uma fase pessoal muito difícil. A gente falava de planos pra meio ano depois, pro ano seguinte. Conheci o pai dele num domingo qualquer sem nenhum aviso, simplesmente estacionou e disse que almoçaríamos com ele. Era pouco tempo, mas eu já tinha desencaixotado as coisas dele que ainda estavam guardadas desde que se mudou. Tiramos o lixo que estava embaixo da escada, fizemos um jardim, plantamos uma horta. Penduramos as cortinas, ele comprou uma cafeteira. Tinha escova minha na casa dele, escova dele na minha. Conheci a mãe dele, ele conheceu a minha. Nossas mães se conheceram… Os dias passaram, ele não me pediu em namoro, mas depois de uma conversa, chegamos à conclusão de que já era namoro e que, pra boa ordem, agora era assim que nos chamaríamos. Eu que nunca chamei nenhum namorado de amor, de repente não conseguia chamar ele de outra coisa.

 

A gente abriu mão do conforto da nossa solteirice pra ser livre junto. Ser livre em companhia. A gente era muito diferente no nosso começo, mas ele me mudou. Eu mudei ele. Na verdade, não mudamos. Ainda somos quem sempre fomos, mas novos lados nossos despertaram. Ele chegou mais perto do que eu sou, eu fui pra mais perto do que ele é e nos encontramos no meio do caminho. Eu escolhi estar com ele porque a gente pode ser o que quiser e tem a tranquilidade em saber que não somos julgados. Por ele valeu a pena me jogar no abismo do amor de novo porque ele nunca me pediu nada que eu não pudesse dar, porque andar de mãos dadas com ele parece a coisa mais certa possível. Ele tem cheiro de casa desde a primeira semana… Por ele eu aprendi a dividir o edredom, com ele eu aprendi a receber ajuda e ele me fez parar de sentir culpa por ser cuidada. Eu tenho paciência com os traumas dele e com o jeito hiperativo de viver. Ele me aceita com todos os meus demônios e me ajuda a lutar contra eles.

Nossa história não é convencional e nós não somos um casal previsível, mas somos duas pessoas felizes que aprenderam que a felicidade pode ser elevada à décima potência quando se divide o caminho com uma pessoa leve e que não pede nada em troca além de companhia. Eu sou muito feliz por não ter me escondido, por ter deixado acontecer, por não ter racionalizado pela primeira vez na vida. Eu poderia ter deixado passar tudo isso que a gente divide hoje por puro receio de abrir mão da minha liberdade. Como diz Carpinejar, liberdade é ter um amor pra se prender… Não sei o que o futuro reserva pra gente, não sei se o que temos é findo ou não. Tudo que sei é que hoje, quase 8 meses depois, ainda vivo como tenho vivido desde o nosso primeiro dia: um dia de cada vez, mas sempre desejando que o dia seguinte tenha o som da risada dele. Amar ele foi uma escolha que eu tomei em um dado momento e eu escolho isso todo dia desde então, eu escolhi ele com todos os defeitos no pacote, não escolhi só o que ele tem de bom pra me oferecer, eu escolhi tudo aquilo que me irrita também. Eu escolhi ser leal a ele, eu dei meu coração, meus ombros e meus ouvidos porque a recompensa é enorme, a recompensa é paz no peito e uma felicidade que me transborda o riso.

Segue lá também: YouTubeInstagram | Facebook | Twitter