Envelhecer é um gráfico que não faz o menor sentido, mas poucas coisas na nossa existência faz. É uma montanha-russa! A gente se perde e se redescobre muitas vezes! Fui a criança que queria agradar, fui me moldando tanto pra agradar que acabei me distanciando de quem eu era. Despertei na adolescência, fui uma adolescente incomodada com os padrões, irritada com as patricinhas que se vestiam pra agradar homens. Fui a adolescente que se questionava, que descobriu quem era e que seria daquele jeito mesmo, quem gostava, gostava. Quem não gostava, podia ir embora… Aí teve a faculdade, nossa… Que lugar difícil de ser quem é, mas resisti bravamente até o fim. Comprei umas brigas com alguns professores, fiz pouquíssimos amigos, mas cheguei na reta final feliz por ter sido sempre eu mesma. No fim da adolescência, as responsabilidade começaram a bater, era hora de trabalhar. Aí no trabalho, queridos, é MUITO difícil ser quem é. Principalmente nos primeiros empregos… A gente tem muito pouco à nosso favor, é preciso se moldar, agradar. É muita insegurança pra pouca idade. Quando a gente menos espera, lá estamos nós de novo esticando a blusa pra esconder a tatuagem, lá tá a gente rindo pra piadas que a gente acha uma merda. E aí a gente engole em seco cantada de chefe que na rua nos despertaria um belo palavrão. Aí a gente se enche de problema e coisa pra resolver e acaba se moldando até pra família, amigos, namorado… Paga pra não se incomodar. Não compra briga, vai aceitando tudo por puro cansaço. Aí uma hora, baixa a Vera Verão e EEEEEPA! A gente retoma consciência. Pede demissão, acaba o namoro, briga com os pais, se afasta de alguns amigos. Aí a gente vê que não pode ficar naquela postura punk pra sempre e vai precisar usar umas máscaras de vez em quando mesmo… Paciência, vamos lá! Aí no outro emprego você é promovido, precisa assumir um posto em que vai influenciar pessoas. Pronto, lá vem a pressão pra ser a criatura-modelo. A gente tenta… Mas conforme ganha espaço, vai falando umas coisinhas que podem desagradar, mas a gente não sente mais tanto medo. Aí começa outro namoro, aí a gente já vai aceitando menos coisas e dizendo uns “nãos” a mais e logo logo tão chamando a gente de louca(o) porque é isso… Ser quem é virou coisa de gente louca. Não consigo imaginar o que acontece quando a gente tem filho, tem que ser o melhor pai, a melhor mãe, não pode errar, não pode mais ter defeito. De repente a pessoa tá lá de novo deixando de lado um monte de pensamentos, deixando de fazer um monte de coisa que queria, se engasgando com um monte de palavra que não pode falar… E aí a gente vai pirando de vez em quando que é pra ter certeza que ainda dá tempo de resgatar a relação consigo mesmo. Eu já entendi que isso vai acontecer a vida inteira e já entendi que a tendência é que os períodos de “foda-se” fiquem mais longos com o passar dos anos e os despertares mais frequentes. Já repararam como as pessoas mais velhas (de seus 70, 80 anos) são completamente sem filtro? Não é porque ficaram doidos não, é porque estão de saco cheio de uma vida inteira deixando de ser quem são. Resistam.
Mês: julho 2016
Ser bonito não é físico.
Ser bonito não é físico, mas estão querendo nos fazer acreditar que é. Sejamos a resistência. Eu ando em uma das minhas 94302 crises virtuais que já tive nessa vida. Existe um motivo: eu odeio a cultura do superficial que as redes sociais vendem e eu acabo, inevitavelmente, fazendo parte disso. Eu sinto que às vezes eu deveria usar mais o espaço que tenho, por mínimo que seja, pra encorajar as pessoas a se questionarem. Eu já estou me aproximando dos 30 anos, então se fizerem as contas, vão ver que minha adolescência foi antes dessa alienação virtual. Bom, não quero ficar com discurso saudosista de “na minha época…”, vim aqui falar sobre como as pessoas estão equivocadamente condicionando a auto-estima diretamente a questões estéticas. Pra pessoas mais novas que se criaram nesse mundo virtual e visual, eu devo estar soando louca.
Vamos começar esclarecendo umas coisas: você não precisa de maquiagem, você não precisa da roupa que todas as pessoas estão usando, você não precisa do corte da moda, você não precisa ser escrava da escova, você não precisa ter o cabelo liso, você não precisa ter uma pele perfeita, você não precisa vestir 36, você não precisa ter as fotos mais bonitas da internet, você não precisa do filtro de coroa de flor no snapchat pra ser bonita. Tem gente ficando milionária na internet em cima da sua frustração, não permita que te usem dessa forma.
Estão aí todo dia dizendo que você precisa conhecer o método de congelar gordura, a drenagem linfática, a escova de diamante, o alongamento de cílios, o megahair, o exercício INCRÍVEL pra deixar a bunda dura em apenas 4 semanas, a unha de gel, o truque pra esconder as sardas, estão aí dizendo que você não pode deixar de ter a nova coleção daquela marca legalzona que todo mundo ama… São incontáveis aplicativos pra deixar a pele lisa, o olho grande, a boca rosada… São matérias em portais com dicas imperdíveis pra tirar a selfie perfeita e a gente não precisa de nada disso. Por que tanta gente está acreditando que sim? Quando é que as pessoas perderam a capacidade de questionar?
Ser bonito é ser de verdade, ser bonito é sair na hora quando alguém está na porta da sua casa e diz “desce” sem se preocupar se o cabelo tá no lugar, se a olheira tá grande demais. Cabelo no lugar é coisa de gente que não se diverte… Correr bagunça o cabelo, tomar banho de chuva também. Andar com a cabeça pra fora do carro despenteia, transar despenteia, piscina, cloro, mar e sal deixam a gente um leão quando o vento bate. E daí? Quem perde tempo demais preocupado com o cabelo, perde uma boa parte da diversão. Ser bonito é ter riso frouxo e capacidade de se divertir, a beleza vem de dentro pra fora quando a gente alimenta a alma.
As olheiras? É, gente, não é todo mundo que tem o privilégio de dormir 8 horas de sono. E nem é todo mundo também que tem o privilégio de TER sono. A insônia tá aí, nossa cabeça anda com coisas demais pra pensar, o escuro ao redor dos olhos na manhã seguinte nos entrega. E daí? Bonito é assumir que é humano, que teve uma noite ruim. Você pode, sim, querer dar uma disfarçada com um corretivo, mas você não precisa disso…
Você sai de salto, passa a noite reclamando, mal consegue andar, no outro dia está cheia de calos e de arrependimentos. Por quê? Se você não gosta e não se sente bem com uma determinada roupa ou sapato, é simples… Não use. “Ah, mas eu sou baixinha…” e daí? Quem disse que você precisa ser alta? Eu já fui em muita balada nessa vida e nenhuma vez fui de salto, usei tênis em todos os lugares que pude e nos lugares que não era permitido entrar de tênis, sabe o que eu fiz? Eu não fui (com exceção de sofridas formaturas e casamentos). Acho inconcebível que a gente se violente pra ser aceito em um lugar que exige coisas que não são naturais nossas. Isso serve pra balada, pro grupo de amigos e, acreditem, pra internet!
Gente bonita é gente que passa a noite jogando conversa fora, é gente que sabe conversar, é gente com argumento, gente com conhecimento, gente que olha no olho. Gente bonita te encanta e você nem sabe o porquê. Gente bonita ouve a música que quer, dança sem se constranger se aquele movimento é sexy, gente bonita lê, gente bonita anda na rua olhando pro horizonte e com o peito estufado de quem sabe que pode não ter o rosto mais harmonioso ou o cabelo mais sedoso nem o corpo mais esbelto, mas sabe que ninguém tem o que ela tem e ninguém é o que ela é. Bom, lembra desse texto aqui? É isso. O que te faz bonito é o que ninguém tira de você.
O que vai te preencher a alma? Impressionar alguém pela sua maquiagem e pelo seu visual e ser mais uma entre tantas pessoas pré-fabricadas ou marcar a vida de alguém e saber que o que te aproximou de alguém foi o que você tinha pra falar e acrescentar?
Tem gente que só quer ver visual? Gente que valoriza só a carcaça? Tem sim, muita gente! Mas são essas pessoas que você quer ter por perto? Eu passei a minha vida inteira usando calça, tênis e camiseta. Fui uma adolescente estranha, gordinha, de all-star/vans e camiseta de banda. Vivi em uma cidade de mulheres loiras, esbeltas, siliconadas, indiscutivelmente esculturais e eu nunca me senti inferior a elas nem por um segundo. A razão é só uma: eu posso me achar, com frequência, a pessoa menos fisicamente atraente dos lugares que vou, mas gosto tanto das coisas que alimento minha alma (músicas, filmes, livros, etc…) que tenho certeza que sou uma pessoa interessante. E se alguém não quiser me conhecer por causa de como eu me visto ou por causa da minha aparência física, essa pessoa não merece conhecer o que eu tenho a oferecer. E quando digo que não me sinto fisicamente atraente, não é uma vitimização, porque não vejo problema nenhum em não ser o holofote visual de nenhum lugar, inclusive prefiro e gosto. Bom, minha monocromia visual já indica que chamar atenção não é meu forte.
Não acreditem que ser bonito é físico, busquem ser pessoas interessantes e não apenas fisicamente atraentes. No fim, o que conta é o efeito que você causou na a cabeça e no coração das pessoas e não nos olhos.
Parece clichê, mas a verdade é que a gente precisa se amar antes de tudo e o amor próprio não está relacionado com o que vemos no espelho. A gente tem que se achar uma pessoa legal, não tem problema nenhum em admitir “eu sou massa!” pra si mesmo. Parece que a gente se sente culpado quando reconhece nossas qualidades, parece errado, parece falta de humildade. Não é. A gente precisa se conhecer se valorizar pelo que a gente é. E ser é uma questão interna. Resista ao que tentam nos vender todos os dias. Não permita que a bunda ou o cabelo de alguém façam com que você se sinta inferior. Combinado? Ser bonito vai além de tudo que a gente pode ver.
Homem chora sim.
Homem não chora, homem não fala sobre sentimentos, meninos muito apegados às mães ficam delicados demais, homem tem que jogar futebol, homem tem que revidar, homem não leva desaforo pra casa, homem não pode ser afeminado, homem tem que pegar mulher, homem resolve os problemas sozinho, homem tem que ser forte.
Chega.
O feminismo vem sendo um assunto cada vez mais presente nas discussões (ainda bem, graças a Deus, amém!), mas com todo o perdão aos que são contrários, acho que é inútil, imprudente e irracional excluir os homens da luta. Ainda acho e sempre acharei que homens têm inúmeros privilégios em relação às mulheres e isso é outra coisa que precisa ser equilibrada urgentemente. Mas é preciso também criar nossos meninos de forma diferente, é preciso que pais e mães de meninos desconstruam alguns conceitos dentro de casa. O machismo é uma das muitas consequências da criação que damos aos meninos. Meninos criados com conceitos sexistas, acabam abafando muito os sentimentos e um dia o ódio explode. O sexo masculino é a esmagadora maioria entre viciados em drogas, alcoólatras, assassinos, serial killers, atiradores, gangsters, etc. Até o suicídio é mais comum entre homens… Ter que passar a vida provando que é “macho”, provoca níveis de ansiedade e depressão gravíssimos.
O documentário “The Mask You Live In” (coloquei o trailer ali embaixo) aborda o tema de uma forma muito humana e sensível. A direção é muito boa e os dados são frutos de estudos sobre a criação de meninos nos EUA, mas o conceito se aplica pro geral. É preciso diminuir o espaço entre homens e mulheres, estudos mostram que há aproximadamente 90% de interseção no funcionamento cerebral, sexo não devia nos separar. Gênero é um conceito construído pela sociedade e nos distancia de uma forma extremamente nociva, nós não somos tão diferentes assim. É preciso criar meninos e meninas como humanos antes de tudo. É preciso criar meninos que possam chorar, que se sintam à vontade para falar sobre seus sentimentos. É preciso que as escolas participem ativamente dessa humanização e desconstrução dos conceitos de gênero. O problema do machismo é cultural e é estrutural, é preciso trabalhar na base.
A hiper-feminilização e a hiper-masculinização nos comerciais, nos personagens de TV, nos brinquedos e em tudo que influencia visualmente as crianças está separando meninos de meninas. Está criando e alimentando conceitos tortos sobre gênero que comprovadamente não procedem. É mais que urgente que a gente se desprenda de teorias CAFONAS e passe a assumir a responsabilidade de tudo que falamos, defendemos, ensinamos.
As crianças são o futuro e é através delas que vamos conseguir mudar o mundo. Assistam esse documentário (tem na Netflix), é muito esclarecedor. Me emocionei muito ao ver adolescentes escrevendo em um papel a máscara que vestiam pra ir à escola e no verso os reais sentimentos que escondiam atrás da máscara. Precisamos deixar que homens e meninos SINTAM, sem que sejam humilhados por isso ou tenham sua masculinidade ameaçada. Somos todos seres humanos e somos feitos de emoções. Eu ainda acredito que essa pressão pra que o menino cresça afirmando sua masculinidade um dia vai aliviar, mas é preciso que todos tomemos consciência.
Rosseau defendia que homem nasce bom, mas a sociedade é que o corrompe. E eu também realmente acredito que a natureza humana é boa, não vamos estragar nossas crianças, por favor.
Rolê Cafeína #4 Por um Punhado de Dólares
Aeee! Edição #4 do Rolê mais legal do meu mundo no ar! haha e já devo dizer que esse foi meu preferido até agora. Meu preferido por todo o conjunto da obra… O nome, que é também o nome de um filme do Clint Eastwood, não é exatamente uma homenagem à produção. Foi só o nome que veio aos sócios na hora que decidiram juntar suas paixões pra ganhar dinheiro. A ideia era montar um lugar legal pra tomar café e beber cerveja com preço justo em uma região democrática. Assim nasceu o PPD que fica no centro da cidade (pertinho da praça Roosevelt), longe dos points hipsters da cidade.
O que eu mais gostei por lá foi justamente o fato de ficar MUITO claro que eles fazem o que gostam e acreditam e dane-se o que os outros pensam. Aliás, o café deles (com a torra escura e um pouco mais amargo que a maioria aprova) leva o nome de “fuckcoffee” porque quem reclamar do amargo, provavelmente vai ouvir um “foda-se, a gente gosta”. Bom, eu gostei tanto de lá que fui em um dia pra conhecer e registrar pro Rolê Cafeína e voltei no dia seguinte pra comer outras coisas do cardápio.
Eu pedi um bolo de cenoura e um cappuccino, o César pediu o “Chapado”, chá gelado que vai maracujá, camomila, hortelã e mel e um bolinho de chocolate com café e cobertura de ganache. Bom, TUDO foi de comer/tomar com uma lágrima escorrendo de tão maravilhoso. O chá é surreal, tentamos reproduzir em casa e obviamente ficou muito longe do original! O preço de tudo é super justo, o público é super variado, o ambiente é super aconchegante e o atendimento é ótimo!

Afff, saudade de todos os itens dessa foto.

Close no bolinho de chocolate com café e cobertura de ganache porque esse merece
Uma das coisas que mais gostei do PPD, é que ele abre de segunda à sábado das 10 da manhã às 10 da noite e não servem só café. No dia seguinte do rolê, voltei e comi um sanduíche de abobrinha que também valeu cada centavo. Eles servem drinks, vinhos e têm uma seleção bem legal de rótulos de cerveja. Tem wi-fi e é o café com mais lugares do Rolê até agora.

O cardápio é na parede e o pedido é no balcão, menos é mais.
Uma coisa que acho importante falar: eu não dou muita opinião sobre os grãos, aromas e coisas mais técnicas dos cafés que tenho ido porque eu não sou barista, não sou uma grande entendedora, só sou uma apaixonada por café na forma mais amadora possível. Da mesma forma que amo vinho, mas não sei dar opiniões muito específicas porque sei que pessoas estudam pra poder dar opiniões. Então só sei dividir entre “gosto” e “não gosto”. A ideia não é julgar nenhum café de nenhum lugar e sim apresentar lugares que conheci e gostei nessa São Paulo gigante de meu Deus. Desculpem se alguém se decepcionou com a falta de técnica, mas não tenho conhecimento pra isso e nem essa é a intenção. Combinado? ❤
O PPD fica na Rua Nestor Pestana, 115 – Consolação. Abre de segunda à sexta das 10h às 22h.
Se forem, me contem como foi e se amaram tanto quanto eu!
Todas as fotos por César Ovalle
Sobre amor, medo e coragem.
“PAREM DE TER MEDO DE DEMONSTRAR!!! Pode me mandar textão, áudio com mais de 2 minutos, ligar depois das 11, gritar meu nome na janela, gargalhar de madrugada… Pod vim (sic) fazendo barulho! Porque gente fria pra mim, é gente morta.”
Tem uma imagem com esses dizeres sendo compartilhada no facebook por muito mais pessoas que eu imaginei que compartilhariam… E sempre a legenda é sobre como não fazer isso é coisa de gente fria. Ué, estaria eu morta e ainda não me contaram? Não podia me identificar menos com uma coisa, mas em minha defesa tenho a dizer que não sou medrosa em quase nada na minha vida, muito menos em demonstrar sentimentos.

crédito: Sara Herranz
Pra mandar textão, áudios de 70 minutos, ligar depois das 11 e gritar na rua não precisa de coragem. Algumas doses de vodka e qualquer um já faz isso tudo na maior cara de pau. Coragem, meu amigo, a gente precisa é pra olhar no fundo do olho de uma pessoa às 10 da manhã e dizer um “eu te amo” com todas as letras, sem tremer e sem gaguejar. Coragem a gente precisa é pra mandar só três palavras no meio da noite “sinto sua falta”. Amar com discrição não é amar menos. Ser objetivo não é ser frio. Gente medrosa se esconde em palavras desesperadas que rodeiam e rodeiam e rodeiam e no fim criam 90 possibilidades de interpretação. Coragem mesmo é falar uma frase simples e objetiva, no seco, sem chance de deixar o outro com dúvida.

crédito: Sara Herranz
Acho que não tem regra pra amar, pode amar gritando na rua sim, pode amar com serenata, com carro de som, pode amar com desespero, com áudio, com textão, com declarações diárias, pode amar até com um único perfil no facebook pra você e seu mozão, pode amar como quiser, como te fizer feliz, mas não espalhe por aí que quem não ama como você tem medo, é frio e é morto.

crédito: Sara Herranz
Te deixo amar no escândalo, mas me deixa amar baixinho. Do meu amor e da minha coragem quem sabe sou eu.
Ser feliz vem primeiro.
É verdade que tem uma onda de pessoas ficando milionárias com coaching empreendedor. Muitas páginas no Facebook diariamente compartilhando dicas e frases motivacionais pra que você aumente sua produtividade e assim, consequentemente, atinja seus objetivos. No entanto, acho que as coisas estão um pouco fora de controle. Essa semana, li em uma das trocentas páginas que eu assumidamente sigo, um dizer que creditaram como “provérbio japonês”:
“Treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam, e então, viva o que eles sonham.”
O que eu pensei quando li: não!
Vamos conversar aqui rapidinho sobre isso e vamos combinar que estão passando dos limites, certo? É verdade que estamos vivendo em um mundo de alta competição e concorrência. É verdade que cada vez exigem mais da gente, que quem realmente se destaca é quem sai da caixa, quem está disposto a fazer um pouco mais que a maioria. No entanto, existe uma coisa chamada equilíbrio que jamais poderá ser esquecida. E outra chamada felicidade. Acredito que estamos com as prioridades um pouco confusas e é preciso retomar consciência do que realmente importa nessa vida.

crédito: Dan-ah Kim
Precisa de dinheiro? Precisa sim. Pra isso, precisa de um mínimo de sucesso profissional? Precisa sim. Pra atingir um sucesso profissional, precisa estar disposto a fazer mais do que a maioria faz? Na maioria das vezes, precisa sim. No entanto, nenhuma obsessão é saudável. Enquanto eles dormem, nós também vamos dormir. E nós vamos nos divertir e descansar enquanto eles se divertem e descansam também, ora! Há uma cultura de alta produtividade à qualquer custo sendo plantada e isso me preocupa e devia preocupar todo mundo.
Vamos trabalhar sim, vamos focar, vamos estudar, vamos tentar ser melhores pessoas, melhores profissionais, vamos estar dispostos a fazer umas horas extras, vamos encarar o trabalho sem reclamar, mas vamos acordar um dia com vontade de fazer nada também. Vamos ver um programa bem ruim na TV, vamos ler uma revista de fofoca uma vez ou outra, vamos sentar no bar e falar umas besteiras. É preciso respirar. É preciso priorizar a felicidade antes do sucesso. O índice de suicídio e de depressão entre milionários teoricamente bem-sucedidos é altíssimo, isso precisa ser levado em consideração. O que preenche a nossa alma são as pessoas com quem dividimos a vida, são os filmes que conseguimos ver em paz, são os momentos ao ar livre sentindo o vento no rosto. O que preenche nossa alma são os sorrisos que a gente dá e os que a gente provoca.

crédito: Dan-ah Kim
Vamos sim matar o trabalho no peito, não fazer corpo mole, não reclamar, ir à luta, mas vamos cuidar da nossa mente antes de tudo. A prioridade é ser feliz, estamos vivos nesse planeta para sermos felizes e mais nada. Não deixe o trabalho controlar você, nem se desespere com as cobranças externas. A gente deve trabalhar pra chegar onde QUER chegar e não onde o mundo diz que temos que chegar.
Relaxe e trilhe seu caminho, permita-se fazer nada, permita-se dormir um pouco mais, alivie a pressão sobre si mesmo. Reflita todo dia e se questione se o que está fazendo está te fazendo feliz, se a resposta for não, repense suas decisões. A vida é curta, amanhã pode não existir, é preciso ser feliz hoje enquanto plantamos. Não podemos deixar pra esperar a colheita, podemos não estar mais aqui quando isso acontecer.
Segue lá também: Instagram | Facebook | Twitter
Blue Valentine
Um filme com Ryan Gosling e Michelle Williams jamais poderia ser ruim. Blue Valentine (no Brasil veio como “Namorados para sempre”) é uma produção de 2010 do diretor Derek Cianfrance. E é parte dos meus filmes preferidos sobre o amor… Eles estão longe de ser contos de fadas, são filmes sobre a vida real, sobre o amor real, sobre sentimentos reais. Eu prefiro falar sobre eles, as comédias românticas americanas e os contos de fadas já têm muitos entusiastas e não precisam de mais marketing.
O filme transita entre o hoje desgastado relacionamento de Cindy e Dean e o ontem mágico. O casal já tem uma filha e está em uma fase complicada, o desgaste da rotina, a frustração da diferença das visões de mundo. O que era mágico, não é mais. O que era o maior charme do outro, passa a ser o maior alvo de irritação. Ele pintor e ela enfermeira, tentam passar pela crise no relacionamento com pouca tolerância, pouca paciência e muito sofrimento que às vezes se confunde com indiferença. Com uma trilha sonora maravilhosa, atuações impecáveis, ângulos inusitados e um roteiro envolvente, é inevitável não lembrar de uma experiência pessoal ou de alguém que conhece. Onde vai parar a mágica dos inícios?
Causa incômodo em quem vê porque ter a verdade esfregada na cara pode ser bem provocador, por isso filmes desse tipo muitas vezes são repudiados pelo público geral. É o “felizes para sempre” que as pessoas querem ver, ainda que saibam que isso é uma ilusão e que relacionamentos perfeitos não existem, mas há uma tendência em usar o cinema para se encher de uma esperança ingênua que se transforma em frustração depois. Pra onde vai o amor quando o desgaste dá as caras? O fim de uma crise pode ser em uma separação, mas pode também ser em um reajuste e uma volta aos trilhos rumo a um relacionamento duradouro e sólido, mas qual foi o fim de Dean e Cindy? Assistam 🙂
Gosto de Blue Valentine pela naturalidade e veracidade das cenas e momentos. As cenas do início são simples e encantadoras, os momentos de crise são intensos e angustiantes. Dá uma dorzinha ver duas pessoas que ainda se amam tentando aceitar que não funcionam mais juntos e despertando pra tantos “defeitos” que sempre estiveram lá, mas que nunca incomodaram tanto simplesmente porque o encantamento era muito maior. É difícil sair ileso desse filme porque é muita veracidade, é muita realidade. Dos mais apaixonados aos mais desiludidos: todos vão ficar mexidos com Blue Valentine.

Uma das minhas cenas preferidas ❤