Ultimamente tenho me deparado com algumas pessoas poderosas que julgam-se grandes por isso. O poder é uma arma, o poder é um perigo, o poder pode dizer muito sobre quem o detém. O poder nada tem a ver com grandeza. Conheço pessoas enormes que ganham dois salários mínimos por mês – se muito – e se divertem comendo espetinho na esquina com a família. Conheço pessoas extremamente pequenas morando em mansões e esquiando na Suíça todo fim de ano. É uma pena que ser grande não é algo que se aprenda na escola ou em um cursinho, ser grande não está prescrito no cargo de uma assinatura de e-mail, na carteira de trabalho ou na conta bancária, ser grande é quase um dom. Ser grande é ser simples. Morro de pena de pessoas que se consideram ricas só porque ostentam uma saldo gordo na conta corrente, isso pra mim é apenas ter dinheiro, ser rico é muito mais. Pessoas grandes e ricas sabem rir de si mesmas, se permitem andar de chinelo em shoppings nobres, quem é rico de verdade sabe o nome do porteiro e da faxineira, não faz cara feia pro restaurante barato da esquina. Quem é grande mesmo não liga se a etiqueta é made in Italy ou made in Taiwan, quem é grande não é movido pelo orgulho, é movido pelo prazer de ser e não ter. Eu vejo pessoas montadas nos seus carros importados e nos seus sapatos de solado vermelho com uma pose que eu costumo chamar de burra, pessoas achando que todos aqueles cifrões estampados valem alguma coisam, mal sabem que há um alívio quando elas saem do ambiente. É claro que eu adoro uma boa comida, gostaria de satisfazer meus desejos consumistas sem me preocupar se vou entrar no vermelho e que adoraria ir pra Paris uma vez por ano, mas não invejo quem se dá todos esses luxos e é pobre de espírito – muito pelo contrário. Eu adoro abraçar a copeira do trabalho, bater papo com o manobrista da garagem do prédio, observar as pessoas no metrô. Eu não tenho vergonha de andar de ônibus nem de recusar convites por falta de grana, eu adoro comprar na liquidação e eu me divirto em qualquer hotel com meia estrela. Não dou a mínima se dizem que levar comida pra praia é coisa de farofeiro e muito menos me sinto constrangida se alguém me pegar com uma sacolinha das lojas Marisa. Dessa vida não se leva nada e, daquilo que se deixa pra quem ainda está vivo, só o que permanece é o que não é paupável. Suas roupas de marca vão ficar cafonas, os móveis de madeira italiana vão virar pó, seu carro vai parar no ferro velho e nada disso significará nada pra ninguém, tudo vai virar pó assim como você. O que fica é a mão que você nunca negou estender, é o sorriso que você deu pra todo mundo sem ligar pro poder que o outro tinha ou não, o que fica é a energia boa que você emanou, a parceria que você sempre dedicou no luxo ou no lixo, o que fica são os ensinamentos de simplicidade, de grandeza e da real riqueza. O que fica é o que você foi e não o que você teve. Querer ter é algo normal do ser humano, é saudável e nos dá uma motivação pra suar a camisa, mas importante mesmo é querer ser. Quem se preocupa em ser ao invés de ter, vive pra sempre, se torna imortal e faz falta em todos os lugares. Quem apenas tem tudo, é nada.