Sobre clichês.

“Que seja doce”

Quantas vezes e em quantos tantos lugares diferentes vocês já não leram essa frase? Há muitos anos iniciei minha vida de Caio Fernando Abreu, os blogs ainda não mandavam no mundo, poucas pessoas tinham Facebook, ninguém entendia direito como o tumblr funcionava e eu precisava peregrinar para encontrar um livro dele. Eu amava, eu era fã, eu achava inacreditável como alguém tão sensível pudese ter existido. Escrevi por muitos lugares passagens dele e uma até selava uma amizade minha (Alô, Maria Isabel! “Em um deserto de almas também desertas…“).

Acontece que de repente e sem mais nem menos, uma enxurrada de Caio aconteceu e eu que tanto reclamo da síndrome underground, me peguei indignada com a banalização dele e queria enlouquecidamente que as pessoas simplesemente parassem de divulgar seus textos. Hoje, depois de muitos anos, eu caio em mim… E tinha como não banalizar? Era ler uma frase e pronto, os mais sensíveis estavam apaixonados e buscando por livros, crônicas, frases, fotos… Estavam com sede daqueles textos carregados de emoção. Banalizou porque é lindo, popularizou porque ainda que se finja o contrário, as pessoas sentem e as pessoas sentem muito. A narrativa dele é primária, não escreve nada rebuscado, nada que exija um grau superior… Poderia ser você escrevendo, poderia ser eu. Poderia… E por que não é? Porque a gente é covarde e é muito mais fácil parafrasear alguém displiscentemente e se esconder atrás de uma assinatura alheia.

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Onde eu quero chegar? Na verdade não sei se quero chegar em algum lugar. Quero dizer que dentre tantos autores, foi ele quem foi banalizado e isso não deixa de ser um bom sinal. Dá uma pontinha de fé nas pessoas… Ainda que elas não consigam assinar seus próprios sentimentos, é preferível que se encontrem em Caio que em Augusto do Anjos, por exemplo.

É, Versos Íntimos (que é de autoria de Augusto dos Anjos, caso não tenha ficado claro) é milimetricamente escrito, tem inclusive uma musicalidade que só um gênio das palavras conseguiria atingir. É rebuscado, é bonito, é profundo, é até real, mas ninguém quer parafraseá-lo porque é amargo. E de amargo, meu amigo, já basta o que não podemos escolher.

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

E é isso que me dá fé. Entre tantas amarguras bem redigidas e historicamente importantes, o Brasil preferiu abraçar aquele que sofria de modo quase infantil e jogava no papel palavras primárias, desesperadas e, muitas vezes, desconexas.

No fundo, é apenas isso que as pessoas querem, as pessoas só querem que seja doce e não deveria haver problema nenhum em banalizar esse desejo. Talvez em coro funcione melhor, né? Então, em uníssono, vamos gritar juntos: QUE SEJA DOCE! (sete vezes)

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“(…) Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.”

– Caio Fernando Abreu

Sobre horário de verão e bolhas.

Quando acaba o expediente de trabalho e ainda tem luz na sala, a gente aproveita.

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Fotógrafo: César Ovalle
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Por quê?

Um post só mesmo porque já é 2013 e muitas pessoas ainda não entenderam, essa é a forma que eu encontrei para colaborar para um mundo menos agressivo aos olhos, literariamente falando.

 – Por que: Se você conseguir substituir o  “por que” por “por qual motivo” ou “por qual razão” é porque é por que separado.

Exemplos:

  1. Por que você acordou cedo?
  2. Não entendi por que ainda não comecei a dieta?
  3. Por que está tão quente hoje?

– Por quê: esse é o mais fácil, é sempre usado em final de frase, se estiver no fim da frase, acento circunflexo nele!

Exemplos:

  1. Acordar cedo por quê?
  2. Você podia ter depositado pela internet, foi ao banco por quê?

Tá, vocês já entenderam esse… Próximo!

– Porque: esse é explicativo, se usa para justificar algo, geralmente pode ser substituido por “pois”, “já que”, “a fim de”, “uma vez que”.

Exemplos:

  1. Fui ao cinema porque precisava me distrair.
  2. Vou dormir porque estou muito cansada.
  3. Chorei porque estava triste.

– Porquê: esse aqui, se você puder substituir a palavra por apenas “motivo”, é junto e com acento! O porquê é um substantivo e pode, inclusive, ser usado no plural.

Exemplos:

  1. Ainda não entendi o porquê de termos brigado.
  2. Ela foi embora de casa sem porquê.
  3. Meu chefe estava estressado, ele tinha muitos porquês.

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É isso, fiz minha boa ação do dia.

Beijotchau!

A vida perfeita dos outros.

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Não caia no conto do mundo onde todas as pessoas estão felizes e vivendo vidas perfeitas… Esse mundo é ilusório, é utópico, é falso, é superficial, é somente virtual. Eu tenho certeza de que os consultórios psiquiátricos estão lotados, que a madrugada nunca teve tantos soluços simultâneos e que a depressão tem batido em muito mais portas que uns dez anos atrás. Não caia naquele verde vivo da grama do vizinho – é apenas um filtro do instagram. A grama não é quadrada, é retangular – a parte queimada pelo xixi do cachorro, o furo na terra, o formigueiro e aquele pedaço que não cresce grama nem com reza braba foram todos cortados.

A gente vive em um mundo tão exposto por pessoas tão vaidosas divulgando sempre o lado bom da vida que a gente acaba caindo no próprio conto. Aquela menina que postou uma foto no parque em um domingo de Sol que fez todos suspirarem de inveja no sofá de casa, sabe? Mal imagina você que ela foi ao parque só pra aproveitar aquele banquinho mais afastado embaixo de uma árvore pra chorar sem que ninguém a visse. E aquele casal amigo que não para de publicar sorrisos em pontos turísticos da Europa? Você não sabe, mas eles brigaram todos os dias. O cachorro fofo da sua vizinha que está sempre lindo nas fotos te matando de inveja porque não pode ter um, lembra? Já destruiu três sandálias, dois controles remotos e todos os pés do sofá da sala.

Não estou dizendo que está errado publicar só coisas boas e bonitas, até porque é o que também busco fazer… Eu posto fotos daquela noite gostosa, não daquela em que eu não consegui dormir de tristeza. Você vai ver somente minha foto no espelho do dia que eu acordei bem e não do dia que meu reflexo me assustava, que eu estava inchada e com uma espinha na testa. O grande problema é que os expectadores – ainda que também iludam seu “público” – caem na cilada da vida perfeita dos outros e essa ideia de que o outro está sempre feliz, bonito, sendo amado, frequentando bons lugares, cheio de amigos e de dinheiro está frustrando as pessoas.

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Existe uma cobrança muito grande para que a vida seja perfeita, afinal, com tantas pessoas vivendo contos de fadas, como alguém daria crédito pra você e sua vida toda bagunçada? Se alguém que estiver me lendo acredita na vida perfeita de alguém, por favor, pare. E se você acredita na minha vida perfeita, também exclua essa ideia da cabeça. Eu já recebi alguns e-mails de meninas de, em média, 18 anos e com a cabeça toda bagunçada… Tão novas e tão perdidas, cheias de cobrança, precisando desesperadamente achar seu caminho pra começar a viver essa vida perfeita que tantas pessoas vivem. É normal se perder, é normal não se achar. A blogueira cheia de roupas maravilhosas também se deprime vez ou outra diante do armário sem ter o que vestir, aquela mulher linda na capa da revista do mês passado está hoje se sentindo gorda e não vai sair de casa. O casal que você inveja está, nesse exato momento, acordando em cômodos diferentes da casa, ontem brigaram o dia inteiro. Aquela menina que conseguiu o emprego que você queria pode estar hoje levando a maior bronca do chefe, mas no fim do dia vai publicar uma foto o crachá dizendo que ama o que faz.

Continuem enfeitando as redes sociais somente com o lado bom das suas vidas, mas não esqueçam que existe um lado escuro que ninguém vê em todas as pessoas. Ninguém vive uma vida cor-de-rosa, os contos da Disney ficaram quando sua idade tinha apenas um dígito e uma vida sem problemas seria uma vida sem objetivo. Não se sinta mal por estar tendo um dia ruim e nem se culpe por não saber o que fazer, não cobre de você mesma uma realidade que não é a sua. Viva de acordo com as suas vontades e possibilidades, não compare sua realidade com a vitrine da vida dos outros. Aceite os dias com o cabelo ruim e seja feliz, a gente veio ao mundo pra isso.

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