Pra variar, a inspiração vem de uma foto postada no Instagram. Depois de uma amiga comentar que já havia mudado sete vezes, eu fiz a conta e me deparei com o número 11. Nessa semana estou passando pela minha décima terceira mudança de casa e, então, a Letícia sugeriu o post sobre o assunto. E por que não?
Eu, que sou filha de uma gaúcha e um cearense que começaram a vida como casal em Brasília, pareço já ter nascido pra mudar e com o traço já no DNA.
Sou totalmente a favor das mudanças e isso fez parte da minha criação, da minha evolução, da minha formação como pessoa. Não, eu não sou filha de militar, meu pai é empresário, sempre foi. Minha mãe não trabalha fora de casa. As mudanças nunca foram por “motivo maior”, ainda que eu acredite que não há motivo maior que a própria vontade.
Eu, que sou de Porto Alegre, comecei a vida de mudanças aos dois anos de idade quando fui morar em Natal (RN). A mudança seguinte foi depois de um ano e de volta ao RS. Aos 8 anos eu pousava em Fortaleza (CE), onde mudei quatro vezes de apartamento, onde morei 9 anos e onde aprendi muito sobre a vida e sobre respeito, sobre ser humano, onde eu formei meu caráter e onde eu finquei minhas raízes, meu coração é nordestino. Aos 16, voltei ao Sul, mas não desci tudo, paramos em Balneário Camboriú (SC). Longe da cidade grande, perto da praia, de volta ao frio. Em terras catarinenses foram quatro apartamentos, oito anos e também muitos aprendizados. Este ano, aos 24 anos, há exatos dois meses e vinte e seis dias, fiz a mudança mais difícil da minha vida e aterrizei em São Paulo.
Por causa das minhas muitas mudanças de cidade, de prédio, de escolas, eu virei uma expert em despedidas. Eu desenvolvi uma dificuldade muito grande (e triste) de criar laços, talvez por achar, no inconsciente, que os laços seriam desatados em breve. Por isso eu tenho poucos amigos, mas em compensação, eu tenho um elo com a minha família que é uma rocha, é um laço de mil voltas e selado com super-bonder. E é exatamente por isso que esta última despedida foi a mais difícil da minha vida.
Eu deixei pra trás o quarto arrumado, a roupa lavada, a comida feita, as contas pagas. Eu deixei a 600km todo o conforto, todos os mimos, as mordomias. Eu saí da zona de conforto e sair da zona de conforto, meu amigo, é a coisa mais complicada de se fazer. No entanto, depois que se faz, é encantador. É um mundo todo novo pedindo pra ser descoberto. Eu troquei a calmaria da cidade litorânea pelo caos de São Paulo. Troquei o caminho de 15 minutos do trabalho por um de uma hora e meia. Eu troquei os dias fazendo nada por dias de faxina. Eu troquei a praia e a brisa por poluição e buzinas. Há quem me ache louca, mas eu queria mudar, eu precisava mudar, eu precisava mexer a minha vida, eu precisava saber que eu conseguia cortar o cordão umbilical depois de 24 anos, eu precisa ir pra frente, eu precisava de algo maior.
A saudade não passa e já estou conformada de que ela nunca vai passar. Eu sinto falta todos os dias das conversas com a minha mãe, dos conselhos do meu pai, do carinho da minha cachorra e da companhia da minha irmã. Aqui em São Paulo, eu contei (e conto) com uma pessoa linda, maravilhosa e muito especial que abriu os braços (o coração, a vida e a casa) pra mim, que topou encarar a vida do meu lado, que resolveu trocar o singular pelo plural e me fez criar um laço que já tem hoje mais voltas que qualquer outro laço já feito com qualquer pessoa que não tivesse meu sangue. Uma pessoa que me acompanha, que me ajuda, que segura minha mão, que me acompanha, que me cuida e que me faz respirar em meio ao caos e sorrir ao chegar em casa.
O grande problema das pessoas é que, ao pensar em mudar, desistem ao pensar nas coisas que vão perder sem se flagrarem que estão olhando pelo ângulo errado. É pelo lado dos ganhos que se olha e é esse lado das vantagens que faz tudo ser mágico e faz tudo valer a pena.
Esse post era pra ser imparcial e apenas a favor das mudanças e acabou virando uma mini auto-biografia, mas o recado é esse. Mude, se deu vontade, mude. Se estiver ruim, mude. Se estiver cansado, mude. Mude sempre. E pra quem tem o medo que eu tive (e enfrentei) de sair da casa dos pais, saiba que nada muda. Que o porto seguro nunca desaba, que sua casa sempre será sua casa, que você sempre terá lugar pra voltar e eu arrisco dizer que minha relação com meu pai, ao menos, está mais próxima desde que me mudei. Hoje eu tenho duas casas e pessoas nas duas que eu amo e que eu sei que também me amam.
Mudar faz crescer, faz evoluir, amadurecer, abrir a mente, quebrar paradigmas, deixar preconceitos de lado e, principalmente, faz aumentar a auto-confiança. E a mudança, caso não der certo, ela não é irreversível, nunca é, nada é. Ficou ruim de novo? Muda de novo. E muda logo, não espere a hora perfeita, a cidade perfeita, o emprego perfeito, o salário perfeito, nada disso existe. A única coisa que você precisa pra mudar, é querer mudar.
E lembre-se: você não é uma árvore.